quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Walker Evans: O homem que escrevia com a câmera.

                       
     
     Conhecido pela expressividade momentânea de sua obra, um dos expoentes máximos da fotografia documental, senão o maior, Walker Evans sonhava ser escritor, mas, viu na fotografia a possibilidade de escrever em linguagem universal e, talvez por isso, tenha entrado pra história.
     Walker Evans nasceu em 1903, em St. Louis, Missouri, EUA, tendo passado a maior parte da infância em Chicago (Illinois), até ir com sua mãe para Nova York em virtude da separação de seus pais. Em 1926, Evans, aspirante a escritor, ruma para Paris, onde frequenta a Universidade de Sorbonne e se deixa influenciar por obras de Flaubert, Baudelaire, T. S. Elliot, D. H. Lawrence, dentre outros. Passado um ano, em 1927, retorna a Nova York decidido a se tornar escritor. Nessa época escrevia suas próprias histórias e ensaios. No entanto, como o próprio Evans diria mais tarde: "Eu queria escrever, mas me senti muito atraído por tudo aquilo que a câmera possibilitava e me senti como que empurrado a tudo isto." A partir daí, Evans abraça a fotografia e implanta nela tudo o que amava na literatura: o lirismo, a ironia, a descrição incisiva e estrutura narrativa.
     Afastando-se do modernismo europeu, estilo que prevaleceu nos primeiros trabalhos de sua carreira, Evans adota o realismo como o estilo que o consagrou, enfatizando o papel do espectador e o poder poético de temas comuns. Em 1935, aceita convite do governo dos EUA para fotografar para a Farm Security Administration - F.S.A., órgão federal criado por Roosevelt para atenuar os efeitos da crise agrícola que adveio com a Grande Depressão. E foi fotografar uma comunidade de reassentamento construída pelo governo para mineiros de carvão desempregados. O resultado do trabalho não sai como esperado. Pro governo. A propaganda positiva pretendida pelo Presidente Roosevelt se transformou no mais pungente relato de uma época que marcou a história dos EUA: a Grande Depressão.

                       

     Evans fotografou a miséria no sul dos EUA, região essencialmente agrícola, mostrando as consequências que a queda no preço dos cereais causou a quem dependia dessa produção. Depois foi encarregado de documentar a vida de moradores de pequenas cidades, numa tentativa do governo em demonstrar como estava se esforçando para mudar a situação miserável em que aquelas pessoas viviam. Negligenciando, na maioria das vezes, as pautas fixadas pelos seus diretores, Evans continuou em sua delicada tarefa de retratar a miséria. Mais tarde ele diria com um sorriso no rosto: "...eu fotografei minha própria demissão."

                       

     Em 1936, ainda na F.S.A, fez fotos para uma reportagem sobre as famílias de arrendatários rurais do Alabama. É desse trabalho que sai a foto-símbolo da Grande Depressão, o retrato de Allie Mae Burroughs, esposa de um arrendatário rural. 

                                 

     Nessa imagem, Evans demonstra como conseguia fazer as imagens falarem por si. Uma mulher de lábios cerrados, provavelmente escondendo dentes dos quais se envergonhava, a expressão triste e rugosa de seu rosto, as roupas simples e no fundo uma parede de madeira, todos evidenciando a situação precária em que ela vivia. 

                                  

     Em 1938, Evans é honrado com uma exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York, a primeira exposição dedicada por este museu a um fotógrafo. Dessa época até 1941, Evans faz uma série de fotos, escondido, no metrô de Nova York. Dizia ele que, no metrô, "os rostos das pessoas estão em repouso nu." Algumas dessas fotografias seriam transformadas no livro Many are Called (1966).

                       

                       

     Nos anos seguintes, Evans foi editor da revista Fortune e professor de fotografia na Universidade de Yale. Morreu em 10 de abril de 1975, em sua casa.


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